Em nossa empresa, frequentemente nos deparamos com pequenas empresas do setor industrial que ainda engatinham nos processos de planejamento e controle da produção. Isso acontece, em grande parte pela ausência de softwares de qualidade a um custo acessível, mas também por completo desconhecimento dos gestores sobre as ferramentas de administração da manufatura.
Em muitos casos observa-se um uso excessivo de planilhas eletrônicas, o que perpetua a informalidade e o retrabalho nestas organizações. A ausência de processos definidos faz com que estas empresas sintam-se desamparadas e acabem recorrendo às planilhas e também ao feeling dos gestores para conseguir definir diariamente O Que Produzir e Comprar, Em Que Quantidade Produzir e Comprar e Para Quando Produzir e Comprar.
Os softwares de gestão, como o Methos C1 ERP Industrial que possuem ferramentas de MRP – do Inglês – Material Requeriment Planning ou Planejamento das Necessidades de Material, conseguem responder estas perguntas de forma eficiente e objetiva. Este conceito de gestão mundialmente difundido permite que uma indústria organize seu PCP (Planejamento e Controle de Produção) de forma a maximizar sua produtividade e otimizar seus níveis de estoque.
O conceito de MRP procura estimular o processo produtivo de forma a eliminar ou reduzir o efeito dos gargalos produtivos, ou seja processos fabris que nivelam a capacidade produtiva na quantidade que este processo consegue produzir independentemente de existir ociosidade em outros processos.
O MRP permite que seja montado um “pulmão” ou seja, um estoque intermediário de peças produzidas por este setor de gargalo em lotes maiores, e que por consequência aumentam a produtividade pois se diminuem tempos de setup e se melhora a qualidade. Quanto maior a quantidade de um lote de produção maior será a produtividade do processo, principalmente em casos de máquinas que necessitam de regulagem, troca de matrizes ou moldes, etc. A Administração da Produção por Gargalos é baseada na Teoria das Restrições ou TOC do Inglês Theory of Constraints.
Existem vários tipos de indústrias que não conseguem colocar em funcionamento um pulmão pelo tipo de produto que produz, pois o mesmo não possui peças semiacabadas que componham diversos tipos de produtos diferentes. Mesmo assim, estas indústrias deveriam utilizar o MRP para melhor controle do processo e sobretudo para planejar suas compras de matérias primas e componentes. O MRP possui, por exemplo, ferramentas que possibilitam a projeção do estoque de um item no tempo, permitindo perfeita visualização da demanda e o planejamento do suprimento do mesmo.
O desconhecimento do MRP faz com que muitas empresas tenham longos tempos de entrega de seus pedidos ou estoques elevados. Hoje existem excelentes ferramentas de MRP em softwares de gestão industrial – ERP do Inglês Enterprise Resource Planning ou Planejamento dos Recursos da Organização. A empresa precisa saber avaliar se o software realmente possui o conceito correto ou se apenas o fornecedor o vende sem ter conhecimento deste. Não é raro encontrarmos ferramentas no mercado que vendem MRP e por vezes possuem apenas um Processo de Planejamento por Ponto de Reposição que é bem mais simples e indicado para itens de demanda independente, como por exemplo material de segurança ou de expediente.
Um processo de MRP pressupõe um módulo de estoque totalmente integrado, prevendo controle de produto pronto, produto semiacabado e matéria prima. Pressupõe módulo de Engenharia com Estrutura de Produto e Roteiro de Fabricação. Dependendo do tipo de produto comercializado, pode ser necessária uma ferramenta de Configurador de Produto para permitir uma engenharia flexível e ágil. Outro erro frequentemente encontrado é a empresa querer implantar um software na produção desintegrado do Administrativo e do Comercial, por exemplo. O perfeito uso do MRP tem como pré-requisito total integração com os demais departamentos pois as informações são dependentes umas das outras.
Com estes conceitos reunidos, a empresa consegue avançar em sua cultura de planejamento com melhoria da performance empresarial. Por outro lado, não basta um software. É fundamental que a organização e seus gestores definam corretamente os processos e os monitorem com disciplina a fim de eliminar informalidades que proporcionam desajuste nas informações e por consequência, desconfiança quanto ao software e seus dados.
O controle de estoque é o caso mais comum de divergência de informações em um sistema de gestão. Não é raro encontrarmos empresas que utilizam o software de controle de estoque, porém acabam por utilizar controles paralelos por não confiar no sistema. Neste ponto existem duas opções: ou o software é realmente falho ou os processos da empresa são falhos.
Temos encontrado as duas situações por vezes juntas e neste caso, cabe um projeto de implantação de ERP acompanhado de um replanejamento do processo logístico de armazenamento que às vezes exige que almoxarifados sejam fechados para que o almoxarife possa ter o controle exato do que sai e entra deste local. Quando isso é possível, o processo ganha em confiabilidade e o MRP passa a ter maior confiabilidade e exatidão. Outro erro comum nas organizações é implantar um sistema de controle de estoque e não monitorar o mesmo com contagens cíclicas que são muito importantes para identificar erros e proporcionar a visualização de possíveis ajustes no processo que pode estar falhando ou ainda na percepção de falhas humanas que precisam ser alertadas para não acontecerem novamente. Além de tudo isso, é primordial que a gerência industrial esteja comprometida e engajada no processo e que exista um profissional no PCP com conhecimento do conceito de MRP. Estes dois profissionais são estratégicos no projeto, pois cabe ao gerente supervisionar e disciplinar os diversos líderes de setores na correta utilização dos instrumentos de ordem de produção e relatórios de apoio. Cabe ao PCP realizar o planejamento projetando cenários produtivos, decidindo pelo mais adequado à política da empresa para o momento, realizando então a liberação das ordens de produção e da demanda de compra para a área de suprimentos. Este profissional também deve distribuir as ordens de produção para os diversos setores produtivos, além de monitorar o perfeito apontamento ou encerramento destes documentos no sistema.
Assim, a cultura de MRP vai se disseminando na organização que aos poucos pode evoluir para utilizar outras ferramentas como o MPS do Inglês Master Production Schedule – Plano Mestre de Produção e também o SFC do Inglês Shop Floor Control – Controle de Chão de Fábrica, que ficam para outro artigo. Com algum tempo de uso do MRP com um controle de estoque efetivo, a indústria consegue melhorar seus parâmetros de planejamento, como Estoque de Segurança, Lote Mínimo, Tempo de Reposição e outros tantos que os softwares oferecem pela apuração dos consumo médio medido pelo módulo de estoques ou com a integração com o planejamento de vendas. Com isso, aos poucos a produtividade tende a aumentar proporcionando diminuição dos custos pelo aumento do ganho de escala. Menor tempo de entrega de pedidos, nível de estoques mais adequado, possibilidade de aumento do mix de produtos produzidos sem perda do controle pelos gestores. Enfim, o MRP é a ferramenta de planejamento de produção e compras mais adequada para a grande maioria das indústrias de transformação de pequeno porte, salvo situações de processos que envolvem produtos com longo ciclo produtivo e que necessitam de ferramentas mais avançadas como o APS do Inglês Advanced Planning System – Sistema de Planejamento Avançado de Produção. Em alguns casos encontramos empresas adotando este tipo de software de forma direta, sem nem mesmo ter passado por um estágio de uso de MRP. Isso pode ser um erro, pois a complexidade de um APS para uma organização que não possui cultura, equipe e processos para tratar com uma ferramenta deste nível, ocasiona frustração, perda de tempo e dinheiro.
Luís Fernando Massenz
Graduado em Administração com Pós Graduação em Gestão Estratégica pela UCS – Universidade de Caxias do Sul – RS – Brasil
Profissional com 20 anos de experiência em Implantações de Sistema para a Produção para empresas de pequeno porte.